terça-feira, maio 08, 2012

Rotineiricidades #4 - O ritmo da chuva

O relógio marcava 19h19.

Depois de uma noite complicada quase sem dormir e um dia extremamente corrido no trabalho, o cansaço e a fadiga começam a tomar conta do corpo. O clima frio da redação faz com que o sono pareça um carinhoso toque de mãe, ele começa a dar mostras de que vai dormir ali mesmo, sentado. Ele então pega um livro da mochila, "Ereções, ejaculações e exibicionismos - Parte 1: Crônica de um amor louco", de Charles Bukowski, entretanto, a falta de concentração advinda do sono faz com que só consiga ler dois contos: "3 mulheres" e "10 punhetas".

Ele fecha o livro, deixa sobre a mesa e caminha calma e distraidamente por toda a extensão da redação. A pausa entre o fechamento de um caderno e o início de outro dá-lhe essa momentânea folga. Em verdade, andar tem uma dupla finalidade, afastar o sono e manter-se aquecido. Foi à copa na esperança de encontrar um café quente, pura ilusão.

A sala de reuniões chamou-lhe atenção, não percebera, até agora, que chovia torrencialmente. O barulho da chuva que entrava pela única janela que ficava aberta era isolado pelas paredes paralelas de gesso da sala de reuniões. Acendeu as luzes e caminhou até a janela. O barulho teve um efeito quase que hipnótico sobre ele, esqueceu o sono, o cansaço e andou até ficar encostado à janela. Os pingos da chuva que molhavam o seu rosto eram como agulhas de gelo e, de imediato, ele correu a janela de vidro, fechando-a. O silêncio foi perturbador, abriu-a de novo e ficou a observar a chuva, não obstante ao frio deveras incômodo dos respingos. Acabou por entrar em um estado de contemplação sem par. Horas se passaram dentro daqueles poucos minutos e, por fim, saciado daquele estranho fetiche, fechou a janela, apagou as luzes, voltou à redação e pôs-se a escrever...

O relógio, agora, marcava 19h36.



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