quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Uma tarde em Cascais

Sempre tento dar alguma utilidade ao meus períodos de ócio, em verdade, quase nunca consigo. Hoje à tarde dedicava-me à essa infrutífera tarefa quando, sem mais nem porquê, me veio à cabeça o nome "Cascais'... Fica perto de Lisboa, Portugal. É um lugar belíssimo que, provavelmente, eu talvez nunca chegue a conhecer.

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Por ruas e vielas da antiga Cascais,
No magro rosto um tímido sorriso,
Ia um moço franzino, passo indeciso,
Rumo ao mar nobre dos seus ancestrais.

Azul mar beijava as pedras do cais,
Embalava as traineiras com preciso
Balanço e enquanto, das aves, o riso,
Soava magano nos alvos areais.

Era a vila castiça! Vila formosa
Da costa do sol! Era a rubra rosa
Dos extensos jardins da egrégia Lisboa!

Inda o vejo passear na orla do mar,
Os seus olhos a sonhar....a sonhar...
E no bolso o tempo, que veloz se escoa.




Fontes:
Foto: "The Atlantic Ocean by the Guincho coast", disponível em Wikipédia/Wikimedia
Soneto: "Cascais" de Luís Santos, disponível em Luso-Poemas - Poemas, frases e mensagens

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Anansi e a história das histórias

Hoje, não sei bem o porquê, me veio à cabeça a história de Anansi, uma lenda africana deveras interessante. A mitologia africana tem várias divisões que variam em função das regiões, tribos, grupos linguísticos, étnicos etc. Pois bem, a lenda de Anansi é parte da chamada Mitologia Ashanti (África Ocidental / Gana). Essa lenda é parte do folclore africano e se difundiu nas Américas do Norte e Central através dos escravos provenientes dessa região africana.



A lenda conta a história de como Anansi trouxe as histórias para o mundo, e é mais ou menos assim...

Há muito tempo, o mundo era um lugar triste por não existirem histórias. Foi quando Anansi, a pequena (e esperta) aranha, decidiu tecer uma teia até o céu para comprar as histórias que Nyame, Deus do Céu, guardava em seu baú de ouro. Lógico que todos no céu debocharam de Anansi, achando seu pleito um tanto quanto absurdo. Para tentar demover Anansi de seu intento, Nyame estabeleceu um preço altíssimo, Anansi deveria trazer quatro das criaturas mais terríveis do mundo: Onini, a píton; Osebo, o leopardo; Mmboro, a vespa; e Moatia, o espírito que nunca foi visto pelos homens. Nyame e todos que estavam no céu surpreenderam-se pois, não só Anansi aceitou os desafios, como também disse que traria Ianysi, sua velha mãe como "brinde".

De volta à terra, Anansi contou com a ajuda da esposa Aso para tentar capturar as quatro criaturas. Pensaram, pensaram, confabularam alguns planos e foram à caça. Onini, a grande píton, seria a primeira... Pegaram um galho que media aproximadamente o tamanho de Onini, alguns cipós e foram para o rio onde Onini costuma ser vista. Lá chegaram em uma teatral discussão sobre o tamanho do galho em comparação ao tamanho de Onini que, por vaidade, deitou-se sobre o galho e deixou-se medir. Feito isso, Anansi usou os cipós para amarrá-la bem forte no galho. A primeira das quatro criaturas já estava sob o seu domínio.


Logo após, Anansi, com uma cabaça e água em uma folha de palmeira, foi até o ninho da Mmboro, a vespa que picava como o fogo. Ao chegar, Anansi jogou a água sobre si e para o alto simulando uma chuva e, argumentando que a água estagaria as asas da Mmboro, ofereceu à ela a cabaça que trazia consigo como abrigo. Fechou-as e já estava com duas das quatro tarefas cumpridas.

Quando encontrou Osebo, o leopardo dos dentes terríveis, Anansi usou de todo o seu ardil ao propor um jogo ao leopardo. O jogo consistia em amarrar e depois desamarrar o outro, quem conseguisse fazer isso em menos tempo seria o vencedor. Esperta e astuta como era, Anansi começou o jogo e, em poucos instantes, tinha Osebo atado pelas patas à uma árvore. Três de quatro, quase no fim.


O mais difícil foi encontrar um estratagem para lograr Moatia, o espírito que nunca fora visto pelos homens. Dizia-se que tais espíritos dançavam ao redor de certas flores. Assim, Anansi esculpiu um boneco em madeira e pediu à Aso que fizesse um inhame irresistível. Anansi deixou o prato de inhame a frente do boneco de madeira, que estava atado por cipós tal e qual uma marionete, além de estar coberto de um líquido pegajoso. Quando Moatia apareceu, ficou encantado com o inhame e pediu um pouco ao boneco que, manipulado pelos cipós, fez um sinal afirmativo. Ao terminar, Moatia tentou agradecer, mas o boneco não se mexia. Irritado com aquilo, ele deu um tapa no boneco e ficou com uma das mãos presa, tentou com a outra mão e esta também ficou presa... Quando mais tentava, mais Moatia ficava grudado ao boneco. A última presa for capturada.

De posse das quatro criaturas e de sua mãe, Anansi dirigiu-se à presença de Nyame que ficou pasmo e, ao mesmo tempo, perplexo com o quase impossível sucesso de Anansi. Com as quatro criaturas presas, Nyame não teve outra alternativa senão cumprir o que prometera. Entregou a Anansi o baú de ouro que continha todas as histórias do mundo dizendo: "O pequeno Anansi, trouxe o preço que pedi por minhas histórias, de hoje em diante, e para todo o sempre, elas pertencem a ele e serão chamadas de histórias do Homem Aranha! Cantem em seu louvor!"

E essa, meus caros, é história de como todas as histórias chegaram ao conhecimento do mundo...




Fontes:
Anansi - Wikipédia, a enciclopédia livre
Anansi - Wikipedia, the free encyclopedia
Mitologia ashanti ____
Falando de Fantasia: Anansi

Imagens:
"Ananse-the-Spider" e "Ananse-and-the-Tiger" de Naomi Frances

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Eu vi um menino...


Eu vi um menino que, de tão péssimo, às vezes, fazia-se necessário amarrá-lo para sossego alheio...
Eu vi um menino brincar com um barco de papel numa poça de água da chuva...
Eu vi um menino muito inteligente, que desenhava maravilhosamente bem e começou a ler muito cedo...
Eu vi um menino que morava em uma casa com muro amarelo e passava as férias na praia...

Eu vi um menino que subia em árvores, atirava de baladeira e jogava peteca, mas era péssimo com pipas...
Eu vi um menino que escondeu mais segredos, dores e rancores do que o seu rosto podia mascarar...
Eu vi um menino que era bom em tudo que fazia, menos em acreditar em si mesmo...
Eu vi um menino chorar escondido por anos, até que pudesse chorar na frente de outrem...

Eu vi um menino que adorva a comida da mãe, principalmente a carne assada e feijão com macarrão...
Eu vi um menino que odiava os irmãos, mas odiava mais ainda ficar longe deles...
Eu vi um menino que gostava de tudo que o pai gostava, porque queria ser igual a ele...

Eu vi um menino que não se tornou arquiteto, nem enegenheiro, nem piloto, nem nada do que queria ser...
Eu vi um menino que se perdeu no meio do caminho, se perdeu tanto que não podia mais voltar...
Eu vi um menino que creceu, cresceu e morreu, mas ainda vive na minha lembrança, correndo de lá pra cá...