quarta-feira, setembro 26, 2012

Rotineiricidades #7 - Cantadas no ônibus

Rotina: substantivo feminino, do francês routine, de route, caminho.
1. Caminho já trilhado ou sabido; 2. Prática constante, em geral (costume); 3. Hábito de fazer uma coisa sempre do mesmo modo (rotineira); 4. Índole conservadora ou oposta ao progresso (conservadorismo); 5. Sequência de instruções ou de etapas na realização de uma tarefa ou atividade.

Um pequena parte da minha rotina é sair de um trabalho e correr direto pra outro, lá pelas duas da tarde. É um trajeto rápido, 15 a 20 minutos, dependendo do trânsito e da rota, é tão rápido (e quente) que eu nem chego a abrir um livro pra ler, fico geralmente ouvindo música ou remoendo coisas pra postar aqui no blog...

Outro dia fazia esse percurso num ônibus vazio vazio, umas dez pessoas bem espalhadas, quando uma garota entrou, passou a roleta e sentou do meu lado. Dei-lhe o mais rápido dos olhares e voltei ao celular pra responder a um sms.

Foi quando percebi que ela tava lendo minhas mensagens.
(Parêntesis)
Esse é um vício geral e, creio eu, incontrolável: ler o sms alheio no ônibus. Não sei em outros lugares, mas aqui em Belém isso acontece muito. Uma amiga me disse que, quando percebe que estão lendo, escreve algo tipo "depois de retorno, tem um filho-da-puta lendo minhas mensagens".
(Fim do parêntesis)
Ao perceber que ela estava lendo, comecei a trocar umas mensagens muito, muito, mas muito sacanas com uma amiga: Bolinho Gerusa. Pura putaria. Escrevia e olhava de esguelha sutilmente. Ela continuava lendo. Até que, em certo ponto, ela tocou no meu braço e disse:

- Oi, tudo bem? Você tem uma caneta pra me emprestar? - Só então pude reparar bem no rosto dela, tinha a pele clara e os olhos pretos, cabelos castanho escuros e aparentava algo em torno de 25 anos. Bonita, mas com um rosto sério.

- Ah tenho sim, só um instante... - Coloquei o celular no bolso e comecei a revirar a mochila atrás de uma caneta, achei e passei pra ela.

- Ah! Obrigada - Daí ela revirou umas apostilas, tirou um papel e se virou de novo pra mim

- Agora você pode me dar o seu número?

o_O!

Quedei-me pasmo e, ao mesmo tempo, perplexo... Simplesmente não soube o que fazer, a voz ficou presa na garganta enquanto ela me encarava com os finos lábios a formarem um sorriso cínico. Como já estava quase no meu ponto, dei o número aos atropelos, peguei a caneta e desci.



segunda-feira, setembro 10, 2012

Incesto

Há horas eu a estava observando. Sentado em um banco junto ao balcão, estava (quase) completamente bêbado. Ela devia ter algo em torno de 1,65 de altura, com cabelos loiros e cacheados que esvoaçavam de uma forma deveras sensual quando inclinava a cabeça sorrindo. Na penumbra do lugar onde estávamos não pude ter certeza, mas podia jurar que ela tinha olhos claros, verdes, pra ser mais preciso. Dir-se-ia que ela era gordinha, mas isso não importava, a silhueta levemente acima do padrão midiático de curvas e formas só a deixava mais atraente pra mim. Todos os seus movimentos me cativavam, tudo nela me excitava, boca, olhos, cabelo, seios, pernas, tudo. Não conseguia ver nenhuma outra pessoa, só ela. Só ela.

Entre uma cerveja e outra, perdi a noção do tempo que fiquei a observar aquela beldade. Até que, em dado momento, nosso olhares se cruzaram. Ela me olhou e sorriu, um riso tão sensual quanto infantil. Um arco de beleza e sensualidade magistralmente pintado num rosto claro e límpido, tal e qual uma estival alvorada em uma praia deserta.

Pois bem. De longe, ela me olhou, sorriu, disse algo às pessoas que estavam em volta e veio em minha direção. Quedei-me pasmo vendo seu elegante caminhar e fui assaltado por um nervosismo que me deixou sem voz no momento em que ela estacou em minha frente. Com as mão na cintura e uma postura autoritária ela me deitou um olhar cínico e disse:

- Vem mano, a mamãe disse que não era pra nos demorarmos...

Droga! Era por isso que ela me parecia tão familiar.



terça-feira, setembro 04, 2012

A Casa na Praia

Pelo que me disseram, ninguém sabe quem construiu aquela casa.

Ela tinha um aspecto diferente, uma arquitetura intrigante, um pé direito muito alto e colunas rebuscadas, trabalhadas com o estilo das casas antigas, mas também tinha paredes com ângulos arrojados e águas de telhado com inclinações que não condiziam com aquele estilo, era antiga e moderna e, acima de tudo, velha.

Pois bem, a casa em si não é a questão.

Era uma casa abandonada e diziam, por toda a praia, que era habitada por demônios e fantasmas. Os moradores mais antigos da praia diziam que, em um dia de chuva, um anjo dos novos deuses passou a visitá-la. A princípio poucas vezes, mas com o passar do tempo com mais frequência. Depois disso, em pouco tempo, todos demônios e fantasmas se enfraqueceram ou foram embora.

Todos menos um.

Esse último habitante, um fantasma, foi, finalmente, deposto pelo anjo, que passou a habitar sozinho aquela estranha casa. Mas não à toa a casa era abandonada: era uma casa difícil de ser habitada, era como se ela reagisse aos habitantes pacíficos, como se não quisesse a paz. A casa lutou e, por fim, transformou também o anjo em um fantasma.


segunda-feira, setembro 03, 2012

Lágrimas e chuva

Durante muito tempo, alimentei uma lágrima
Que me fugiu em um dia de tristeza, enquanto chovia
Mas, em um dia de sol, ela voltou a mim no riso daquelas crianças