sexta-feira, maio 27, 2011

Da origem do termo "Parmegiana"

Outro dia em uma discussão à mesa, alguém relatou uma situação engraçada sobre o queijo (ou a falta dele) em um Filé à Parmegiana... Ora pois, de imediato, lembrei-me do livro Literatura e Gastronomia: um casamento perfeito, onde o autor, o curitibano Fabiano Dalla Bona, faz uma incrível miscelânia entre a literatura e cozinha italianas, um verdadeiro tratado gastronômico-literário contendo inúmeras receitas da cozinha siciliana referenciadas em diversas obras. Dentre elas, ele discorre sobre a origem do termo "parmegiana" em uma receita de parmigiana di melanzane (Berinjelas a parmegiana). A explicação para a origem do termo é a seguinte:

[...] Ao contrário do que se pensa, o nome parmigiana, não significa absolutamente berinjelas à moda da cidade de Parma ou berinjelas com queijo Parmigiano Reggiano, mas deriva de parmiciana, ou seja o conjunto de listras de madeira, sobrepostas, que formam uma persiana e que lembram a arrumação das fatias de berinjela no preparo do prato. Parece que o prato é uma herança da dominação árabe e grega na ilha, com grandes semelhanças com a moussaka grega e a tiani árabe.
... leia a receita completa

Referências:
DALLA BONA, Fabiano. Literatura e Gastronomia: um Casamento Perfeito. Italianova: 2005.
_____. Blog Cozinha, Literatura & outras Artes

terça-feira, maio 24, 2011

O Segundo Sexo - Simone de Beauvoir


"O Segundo Sexo é um clássico publicado por Simone de Beauvoir em 1949. São dois livros sobre a situação da mulher. O primeiro volume recebeu o subtítulo de “Fatos e Mitos”, e o segundo volume foi denominado “A experiência vivida”. Como outros clássicos feministas, encontra-se esgotado no Brasil."

Lembro dessa obra dos meus semestres iniciais na Faci, mais especificamente do 2º semestre, das aulas de Introdução às Ciências Socias e Políticas, ministradas pelo ilustre benemérito Cláudio Carvalho (Twitter | Facebook), não cheguei a apreciá-la por completo, apenas um trecho que, ao término, traduzia-se na máxima "Não se nasce mulher, torna-se", em alusão à forma pela qual Simone de Beauvoir percebeu a construção da identidade feminina e da feminilidade a partir de modelos e/ou estereótipos sociais. Ao que tudo indica, tal obra foi o ponto de partida de discussões acerca da condição da mulher em uma sociedade estritamente machista. Pois bem, abaixo estão os links para leitura e/ou download dos dois volumes: O Segundo Sexo vol.1 - Fatos e Mitos e O Segundo Sexo vol.2 - A Experiência vivida.

O Segundo Sexo

O Segundo Sexo Vol 2

sexta-feira, maio 20, 2011

Smile everyday

Em verdade, em verdade, vos digo que, nada há de mais puro, belo e verdadeiro que o sorriso de uma criança.

segunda-feira, maio 16, 2011

Amsterdã Blues - Arnon Grunberg

Hoje ao adentrar a habitação da Gordinha (@denisegerusa) deparei-me com esse livro que, lembro eu, emprestei-o há tempos, mas que a mesma nunca se deu ao deleite de ler. Comprei esse livro na prateleira de promoções do Magazan (leia-se livros não best-sellers que ninguém quer ler), comprei-o por míseros R$ 4,90. Um preço muito bom pra um livro que se mostrou bastante interessante e peculiar.





"Absurda, sem-vergonha e divertida" são os adjetivos que descrevem com precisão a história da vida do personagem Arnon Grunberg, delineada pelo autor homônimo. Lançado em 1994, quando Grunberg tinha apenas 22 anos, o livro vendeu 70 mil cópias na Holanda, e agora (2003) chega ao Brasil traduzido direto do original.

Porque ele não está na escola? O que esse sujeito faz nos bares de hotéis e restaurantes caros? Por que é tão complicado não emprestar os ouvidos a esse cliente estranho, depois de você se sentar ao lado dele? O talento de Grunberg para a tragicomédia encontra terreno fértil nessas confissões cativantes sobre sua carreira escolar prematura abortada, sobre seu pai doente que insulta a enfermeira (e que se alivia sobre o carpete), sobre sua mãe que era a mais bonita de todas e que agora entorna uma panela de macarrão sobre o marido (que fica imóvel), sobre a garota Rosie (seu primeiro amor) e a lista de prostitutas que ele visitará mais tarde.

É difícil ter alguma consideração para com a sua atitude. A partir da metade da história, passamos a querer que Arnon se emende e tenha algum tipo de alegria e que siga adianta ocm a sua vida. Em vez disso, ele permanece ensimesmado do começo ao fim, criando um retrato estático da Amsterdã anônima - sem apelar ao Rijksmuseum, às tulipas ou ao charme de seus canais.


Arnon Grunberg nasceu em Amsterdã em 1971. Depois de ser expulso da escola aos 17 anos, abriu uma editora de um só funcionário e foi também garçom e ator. Certo dia, viu-se contando suas histórias de sobrevivência nas ruas de Amsterdã para um editor holandês. O resultado foi Amsterdã Blues, traduzido para diversas línguas. Atualmente mora em Nova York e colabora para jornais holandeses e norte-americanos.

quinta-feira, maio 05, 2011

Da doutrina da finalidade da vida - Friedrich Nietzsche

Nietzsche não é um autor do qual eu seja particularmente partidário, digamos assim, gosto muito de seus escritos e, reconheço, é um autor de inefáveis obras e conceitos, principalmente acerca da existências humana e da relação com as suas divindades. Máximas como "Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós!" e "O homem deve ser superado!", exprimem bem o que digo.

Pois bem, relendo A Gaia Ciência, senti-me quase que no dever de compartilhar o trecho a seguir com os poucos leitores do meu inestimável blog.

Nesse breve trecho inicial já se percebe o escopo do fim dos fundamentos da existência de uma divindade, Deus, no caso, como justificativa e fonte de valores para a humanidade, tanto individual quanto coletivamente. Também há a desvaloração de conceitos como bem e mal, certo e errado, e uma breve referência a um tempo em que, talvez, todos alcancem um status de desprendimento que ele chama de "suprema libertação", "suprema irresponsabilidade".

Pois bem, quanto ao trecho, ei-lo...


"Mesmo considerando os homens com bondade ou malevolência, encontro-os sempre, a todos e a cada um em particular, ocupados em uma única tarefa: tornar-se úteis à conservação da espécie. E não por um sentimento de amor a essa espécie, mas simplesmente porque nada neles é mais antigo, mais poderoso, mais inexorável e mais invencível do que esse instinto... porque esse instinto é propriamente a essência da espécie e rebanho que somos. Se chegamos assaz rapidamente, com a miopia ordinária, a separar a cinco passos de distância, os nossos semelhantes em úteis e em prejudiciais, bons e maus, no nosso balanço final refletimos sobre o conjunto e acabamos por desconfiar destas depurações, destas distinções, renunciando a elas. O homem mais prejudicial pode ser ainda, no fim das contas, o mais útil à conservação da espécie, pois sustenta em si mesmo, ou nos outros pela sua influência, instintos sem os quais a humanidade estaria há muito tempo definhada e corrompida. O ódio, o prazer com o mal alheio, a sede de tomar e de dominar e, de uma forma geral, tudo aquilo a que se dá o nome de mau, não passam de um dos elementos da assombrosa economia da conservação da espécie; economia dispendiosa, certamente, pródiga e, no geral, altamente insensata, mas que, de modo comprovado, conservou a nossa raça até agora.

Não sei mais, meu caro próximo, e congênere, se ainda podes viver em detrimento da nossa espécie, viver de forma "irracional" e "má"; aquilo que poderia prejudicar a espécie, talvez tenha morrido há milhares de anos; é talvez agora uma dessas coisas perante as quais nem o próprio Deus pode conceber. Siga as tuas melhores ou piores inclinações e, antes de mais nada, encaminha-te para a tua perdição; em ambos os casos favorecerás, provavelmente, de uma maneira ou de outra, o progresso da humanidade, serás sempre em qualquer ponto o seu benfeitor e terás direito aos seus apologistas... como também aos seus detratores! Mas nunca encontrarás quem possa troçar de ti, indivíduo, inteiramente, mesmo naquilo que tens de melhor, aquele que será capaz de te representar com força suficiente para aproximar da verdade, a tua incomensurável pobreza de rã e de mosca!

Para rirmos de nós mesmos, como seria necessário, como o faria a verdade total, os melhores não tiveram até agora suficiente senso pelo verdadeiro, os mais dotados, gênio bastante. Talvez haja ainda um futuro para o riso! Que acontecerá quando a máxima: "a espécie é tudo, o indivíduo é nada" tiver se incorporado à humanidade e quando todos tiverem livre acesso a esta suprema libertação, a esta suprema irresponsabilidade? Talvez então o riso se tenha aliado à sabedoria, talvez haja aí então uma "gaia ciência".

Fontes:
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Coleção Obra-prima de Cada Autor. São Paulo: Martin Claret, 2003.
Imagem (carticatura) encontrada em diversos sites, mas de autoria desconhecida, não obstante ao fato de estar assinada.
Detalhe do título da capa original da segunda edição de A Gaia Ciência (Die fröhliche Wissenschaft), de 1887 (Wikipédia)