segunda-feira, maio 06, 2013

Sobre praias, garotas cegas, dinossauros e elfos



Era a primeira manhã ensolarada depois de uma semana inteira de chuva.

Estávamos, os quatro, aproveitando a praia. A maré estava seca às 9 da manhã e, lá da linha d'água, víamos  as barracas ao longe como uma linha escura pontilhando o horizonte da Praia do Atalaia. Visão que remetia à minha mais antiga lembrança: gosto de Fanta uva com água do mar.

Era incrível o quanto a Toph havia crescido. O Yoshi então, nem se fala. Ambos estavam correndo e chutando água um no outro enquanto eu, ainda na areia, de pernas cruzadas, tentava segurar aquela coisa linda e pequena que teimava em querer engatinhar pra junto dos irmãos.

Ela se virou e me encarou com aqueles olhos, de um castanho tão claro que mais pareciam amarelos, pedindo pra que eu a deixasse ir. E ela quase conseguiu. Quase.

Mas, quando a Toph parou e gritou: "Arya! Vem Arya!! Vem pra cá!!!", aí não teve jeito, coloquei ela colo e fomos pra água. Ao chegar, todos nos juntamos numa corrida desenfreada, Yoshi e Toph na frente e eu, com Arya no colo, logo atrás. Aquele frenesi era um acordo tácito, um código nosso: mergulho.

Pulamos as primeiras ondas e, quando avistamos uma de um bom tamanho, mergulhamos. Senti o pé da Toph roçar no meu e a Arya puxar meus longos cabelos pra se manter segura.

Fechei os olhos. E o mergulho pareceu durar uma eternidade...

De repente, ainda submerso, ouvi um barulho parecido com chuva que foi aumentando cada vez mais. Curioso, abri os olhos. Mas não havia praia nenhuma, nem mar, nem sol... Só via o telhado de casa, a TV ainda ligada. Eu estava completamente desembrulhado e com muito frio. Puxei o lençol e me cobri. Virei de lado e tentei dormir de novo e voltar a sonhar com praias ensolaradas, garotinhas cegas, elfas e dinossauros...

Tentei mesmo. Juro que tentei...





terça-feira, janeiro 08, 2013

Fuga da caverna

A caverna era quente, levemente escura e úmida. Das paredes brotavam raízes e um água fria (proveniente de um temporal recente, talvez?) que se acumulava por todo o chão. O ar era abafado e com forte cheiro de terra e raízes, um cheiro tão forte que era quase palpável. Em meio a isso, uma baça luz banhava do chão enlameado.

O garoto caminhava calmamente, guardando suas energias para combater qualquer eventual inimigo que estivesse à espera do lado de fora. Levava um machado pequeno preso às costas e uma espada longa na mão direita.

Durante todo o trajeto, o gotejar das estalactites, os dentes da caverna, eram constantes e, de certa forma, aconchegantes. O uivo das eventuais correntes de ar, vindas de algum lugar ignorado. A respiração pesada e quente do seu companheiro de jornada alguns passos atrás. Tudo isso fazia com que ele se mantivesse consciente de si mesmo e dos perigos a frente.

Caminharam por horas sem parar. A saída já era visível ao longe e, dessa forma, a tensão na estranha dupla aumentava a cada passo. Como já imaginavam, eram aguardados. O primeiro dos inimigos, um sentinela, andava impaciente de um lado a outro, com a espada ainda embainhada. O garoto se aproximou silenciosamente da saída, o que não impediu que fosse visto.

Quando o alarme foi dado, ele correu os últimos metros e arremessou o machado com precisão no sentinela que corria para enfrentá-lo. Saiu da caverna e viu-se cercado por todos os lados, avaliou os inimigos, sem demonstrar medo algum. Abaixou-se, pondo a espada à frente e entoando, de forma quase inaudível, um mantra muito antigo. Durante algum tempo os atacantes ficaram sem entender aquilo. Até que, por uma fração ínfima de tempo, os olhos do garoto brilharam vermelhos e ele caiu de lado, desmaiado.

Curiosos, os 20 ou 30 inimigos se aproximaram cautelosamente.

Alguns deles nem chegaram a ver o dragão emergir da caverna, voar por cima do garoto inconsciente e começar o massacre, mordendo, arrancando cabeças e braços, cortando com as garras e com a cauda. Rápido, preciso e extremamente letal. Em instantes todos estavam mortos. O dragão parou, andou em volta do garoto, aproximou o focinho do rosto dele, tocou-lhe a testa e ele acordou...

- Eu disse que conseguiríamos!
- Sim. Conseguimos... (respondeu o dragão)