segunda-feira, dezembro 10, 2012

Rotineiricidades #9 - TV numa quinta-feira à noite

Lembro que a TV estava ligada. Coisa inútil. Servia apenas pra deixar o ambiente com uma luminosidade agradável, interessante, um lusco-fusco oscilante. Ela, a TV, estava no mudo, inclusive...

O único som, minimamente audível, era o roçar dos nossos corpos nos lençóis, já bastante desarrumados. Ela estava deitada de costas pra mim, a uma pequena distância... Cheguei mais perto ao ponto de tocar sua nuca (ou cupim, como nós dois, carinhosamente, chamamos o cangote alheio)...

O contato da minha barba por fazer provocou um sobressalto que a fez se contorcer na cama e aninhar-se no meu peito, o encaixe daquele pequeno corpo foi perfeito. Estremeci e continuei a roçar a nuca dela, deliciando-me deveras com aquele riso solto...

Abracei-a, forçando a brincadeira. O riso virou uma gargalhada. Ela se virou e me empurrou... Fez-se um silêncio indescritível durante o qual trocamos um profundo olhar. Ela passou os braços pelo meu pescoço num caloroso abraço. Tocou o nariz no meu. Recuou um pouco, ainda mantendo aquele olhar carregado de uma inefável cumplicidade. Cumplicidade e todos aqueles sentimentos para os quais não existem palavras, descrições, características, nada. Só sentindo mesmo pra saber...

Poderíamos ter ficado daquele jeito por um milhar de anos. Ou até mais, mas não tínhamos todo esse tempo. Eu sorri, ela também. Trocamos um leve beijo...

- Vamos dormir, minha filha?
- Vamos, pai...





Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo, cheio de magia.