quinta-feira, dezembro 15, 2011

Transição tecnológica - o caso Android

Editorial da revista Linux Magazine #85 (Dezembro/2011)


Recentemente, em reunião com um corretor de seguros, tivemos novamente aquela epifania de constatação de plantão: estamos assistindo a um “repeteco” tecnológico de algo vivido há 30 anos durante o advento do computador pessoal. O corretor usava um notebook, equipado com (alguma versão do) Windows®, mas seu celular era equipado com Android (Linux, open source). Essa combinação está se repetindo em pelo menos 68% do tempo atualmente, segundo dados das principais consultorias de mercado e conforme divulgado durante a MOTODEV App Summit em maio deste ano.  O mais interessante, entretanto, é que, enquanto o celular (ainda) não é suficiente para substituir o PC, seu primo maior, o tablet, está ganhando cada vez mais adeptos. Embora com acesso limitado em grande maioria às classes A e B, seus usuários relatam estar cada vez menos propensos a ligar seus notebooks ou desktops. A mesma plataforma que equipa os celulares predominantemente nos dias de hoje está fadada a equipar os tablets.

O Android está se estabelecendo como plataforma padrão para esse tipo de desenvolvimento. A escolha realizada pelo Google – que não quer nada menos do que “aumentar a Internet”, com o objetivo de ganhar escala para o seu modelo de negócios baseado em propaganda sensível a contexto – de fornecer a tecnologia de base para os equipamentos que deverão estar nas mãos de mais de 70% da população do planeta, foi um primor estratégico! Além dos dados de busca, esses aparelhos servirão com certeza como coletores de dados dos hábitos de seus usuários, o que deverá aumentar a assertividade da propaganda veiculada pelo gigante das buscas. Do lado dos fabricantes de aparelhos (Samsung, Motorola, HTC, Sony-Ericsson, Huawei, para citar apenas alguns, pois há mais de 90 no momento), a plataforma caiu nas graças de quase todos. O fato de ser real e totalmente aberta conferiu aos fabricantes um poder nunca antes disponível, qual seja, o de operar em todos os níveis de desenvolvimento de seus sistemas gratuitamente. Para os fabricantes de software, há uma plataforma mais ou menos padronizada para desenvolvimento de programas, que está se consolidando e estabilizando com a chegada do Android 4.0.

Veremos praticamente toda uma nova gama de aplicativos aparecendo para a plataforma, da mesma forma que ocorreu com o PC há três décadas. A demanda por profissionais de desenvolvimento para dispositivos móveis está cada vez mais aquecida e os especialistas já disponíveis no mercado estão sendo disputados a tapa. A pilha de serviços em torno do Android está se consolidando e não tardarão a aparecer inclusive entidades que certifiquem a proficiência dos desenvolvedores na plataforma.

Para o usuário comum é apenas mais uma ferramenta, mas que democratiza o acesso à tecnologia pelo ganho de escala e pela quantidade de programadores que arregimenta. Como a base de tudo isso é o Software Livre, todas as vantagens oriundas das tecnologias abertas vêm de roldão: competição, inovação mais rápida, soluções mais flexíveis, controle de plataforma e independência de fornecedor, maior estabilidade e segurança, sem esquecer da formação local de mão-de-obra.

Parafraseando Linus Torvalds em sua palestra na LinuxCon Brasil 2011: isso
tudo vai estar até na pia da sua cozinha – pois já chegou à sua geladeira...



SILVA, Rafael Peregrino. Transição tecnológica. Revista Linux Magazine. n. 85, p.4. Dez/2011.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu cunhado é engenheiro da computação e está cursando o mestrado, fala muito nesse android, fico só escutando, não entendo nada.