Embora o desejo, a sensualidade, o erotismo e até mesmo a representação explícita de órgãos sexuais possam ser encontrados em muitos, senão em todos, tempos e lugares, a pornografia como categoria literal e artística parece ser um conceito tipicamente ocidental, com cronografia e geografia particulares. As principais fontes da tradição pornográfica podem ser encontradas na Itália do século XVI e na França e Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, além do antecedentes da Grécia e Roma antigas.
Em 1806 já havia uma tradição pornográfica francesa, que sofria uma forte repressão policial, dirigida à obras pornográficas clássicas e também a tipos mais efêmeros, dentre os quais, encabeçando a lista, figuravam L'Académie des dames e L'École des filles, os principais clássicos do século XVII. Embora os livros franceses contituíssem o núcleo da tradição pornográfica dos séculos XVII e XVIII, a primeira fonte moderna citada pelos estudiosos da pornografia - e por muito de seus sucessores - é o escritor italiano Pietro Arentino, com a obra Ragionamenti (1534-1536), que tornou-se o modelo da porsa pornográfica do século XVII. Nela, o autor desenvolveu diálogos realistas e satíricos entre uma mulher mais velha e experiente e outra jovem e inocente. A composição em diálogos dominou completamente a literatura pornográfica e aparece, por exemplo, em La Philosophie dans le boudoir (1795), do Marquês de Sade.
Entre a publicação de L'Académie des dames e L'École des filles, e a grande reformulação dos escritores pornográficos ocorrida na década de 1740, a produção desse gênero ficou estagnada. As publicações, no entanto, continuaram, especialmente a da pornografia política. Entretanto, nenhuma obra importante surgiu para incorporar-se aos clássicos. A literatura pornográfica ganhou um novo alento com a publicação de obras novas e influentes: Histoire de Dom Bougre, portier des Chartreux (1741) e Le Sopha (1737) de Crébillon; Les Bijoux indiscrets (1748), de Diderot; Thérèse philosophe (1748) e Fanny Hill (1748), de Cleland; além das obras do Marquês de Sade.
Entre 1790 e 1830, dependendo do país - mais cedo na França, depois na Grã-Bretanha -, as funções social e política da pornografia mudam. A pornografia perde sua subversividade política e torna-se um negócio comercial. Sobre esse momento, Wagner escreve: "nada resta a ser dito sobre o aspecto ideológico [...], o prazer sexual é o único objetivo".
FONTE:
HUNT, Lynn (Org.). A Invenção da Pornografia: Obscenidades e as Origens da Modernidade. 1ª ed. São Paulo: Hedra, 1999.
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