Era a primeira manhã ensolarada depois de uma semana inteira de chuva.
Estávamos, os quatro, aproveitando a praia. A maré estava seca às 9 da manhã e, lá da linha d'água, víamos as barracas ao longe como uma linha escura pontilhando o horizonte da Praia do Atalaia. Visão que remetia à minha mais antiga lembrança: gosto de Fanta uva com água do mar.
Era incrível o quanto a Toph havia crescido. O Yoshi então, nem se fala. Ambos estavam correndo e chutando água um no outro enquanto eu, ainda na areia, de pernas cruzadas, tentava segurar aquela coisa linda e pequena que teimava em querer engatinhar pra junto dos irmãos.
Ela se virou e me encarou com aqueles olhos, de um castanho tão claro que mais pareciam amarelos, pedindo pra que eu a deixasse ir. E ela quase conseguiu. Quase.
Mas, quando a Toph parou e gritou: "Arya! Vem Arya!! Vem pra cá!!!", aí não teve jeito, coloquei ela colo e fomos pra água. Ao chegar, todos nos juntamos numa corrida desenfreada, Yoshi e Toph na frente e eu, com Arya no colo, logo atrás. Aquele frenesi era um acordo tácito, um código nosso: mergulho.
Pulamos as primeiras ondas e, quando avistamos uma de um bom tamanho, mergulhamos. Senti o pé da Toph roçar no meu e a Arya puxar meus longos cabelos pra se manter segura.
Fechei os olhos. E o mergulho pareceu durar uma eternidade...
De repente, ainda submerso, ouvi um barulho parecido com chuva que foi aumentando cada vez mais. Curioso, abri os olhos. Mas não havia praia nenhuma, nem mar, nem sol... Só via o telhado de casa, a TV ainda ligada. Eu estava completamente desembrulhado e com muito frio. Puxei o lençol e me cobri. Virei de lado e tentei dormir de novo e voltar a sonhar com praias ensolaradas, garotinhas cegas, elfas e dinossauros...
Tentei mesmo. Juro que tentei...